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Como lidar com o medo de começar

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Todo ilustrador começa com medo. Uns disfarçam melhor, outros travam de vez. Mas ninguém está imune àquele friozinho que aparece quando a gente olha pro papel em branco e pensa:“E se eu não for bom/a o suficiente?”


A verdade é que o medo não é sinal de que você está no caminho errado. Ele é apenas o lembrete de que você está prestes a fazer algo importante.


O medo como parte da jornada


No início, a gente acha que o medo vai desaparecer quando ficar “bom”. Mas não vai. Pior que ele continua lá. Eu sei sobre isso muito bem. O medo de começar se torna o medo de 'e se não gostarem'?


No começo, o medo é de começar. Depois, é de mostrar. Mais tarde, de não ser aceito/a, de não conseguir viver disso, de decepcionar alguém. De alguém nos criticar.


Eu mesma, quando comecei, sentia medo de mostrar meus trabalhos. Achava que todo mundo desenhava melhor do que eu — e que se eu mostrasse o meu desenho, iriam dizer 'que legal' — e, por trás, dizer que eu não levava jeito para a coisa.


Hoje, depois de mais de trinta livros ilustrados, às vezes ainda sinto medo… e vou te falar — de coração — que tem uma frase que todo mundo fala que é muito verdade:


— Se tá com medo, vai com medo mesmo.



Por que o medo paralisa


O medo faz parte da vida. Ele tem uma função útil: ele tenta nos proteger.


Mas, na arte, ele se confunde com o perfeccionismo — aquela voz interna que diz que o traço ainda não está bom, que a ideia ainda não é original o bastante, que o material — ou a hora certa — ainda não chegou.


E é aí que a gente trava: esperando o momento ideal. Aquele dia em que vai sobrar tempo, inspiração e coragem ao mesmo tempo — o que, convenhamos, nunca acontece.


O segredo é aceitar o medo e começar mesmo assim. Não existe “sem medo”. Existe apesar do medo.


A prática como antídoto


Se tem uma coisa que aprendi com o tempo é que ação gera coragem. Não o contrário.


É fazendo que vamos 'nos tornando' ilustradores. É desenhando com a mão trêmula que você aprende a firmar o traço. É terminando o primeiro desenho torto que você se aproxima do segundo — que já sai um pouco melhor.


A prática é o que transforma medo em confiança. Cada vez que você termina um desenho, ainda que imperfeito, você acumula uma pequena prova de que é capaz. E são essas pequenas provas que, juntas, constroem o que a gente chama de segurança.


Foi só depois de 'alguns livros' que eu me senti confortável em dizer que eu era — de fato, ilustradora. Hoje, mesmo finalista do Prêmio Jabuti, tem horas que eu ainda me surpreendo: e não é que eu realizei o meu sonho de ser ilustradora? Acho que todo mundo tem um pouco disso.


O mito do talento


Muita gente diz: “Não nasci com talento pra isso”. Mas o talento é um mito confortável. Ele faz parecer que quem tem sucesso nasceu pronto — e, por consequência, quem tem medo estaria condenado a não conseguir.


Na verdade, o que existe é constância. Quem desenha bem é quem não parou quando o desenho ficou feio. É quem entendeu que cada tentativa é parte da lapidação do olhar e da mão.


Se o seu traço hoje não é o que você queria, não é porque falta talento — é porque falta tempo de prática.


Existem muitos tipos de medo, e reconhecer qual é o seu já é metade do caminho. Há o medo técnico, de não saber desenhar “direito”, de errar as proporções, de não dominar o material.


Há o medo emocional, aquele que sussurra que o seu trabalho nunca será bom o bastante.


E há o medo social, de se expor, de ser julgado, de ouvir críticas. Para mim, esse é um dos piores.


Cada um deles pede um antídoto diferente, mas todos têm cura parecida: ação constante, gentileza consigo mesmo/a e foco no processo, não no resultado.


Algumas sugestões simples, mas que ajudam:


  • Faça um desenho pequeno todos os dias — um traço, um estudo, um esboço. A constância é o melhor remédio contra o medo. Tente melhorar alguma coisa todo dia.


  • Estude livros infantis e veja as soluções que os ilustradores fizeram. Às vezes, você tá tão focado em fazer anatomia perfeita que esquece que a espontaneidade é mais importante no traço que a perfeição. Nem todos os ilustradores adotam perspectiva nem perfeição anatômica. Até as mãos, às vezes só tem 4 dedos.


  • E, por fim, inspire-se, mas não compare o seu trabalho com o dos outros. Talvez eles tenham mais anos de prática, talvez tenham mais experiência. Compare o que você fez no ano passado com o que faz agora. E vai notar que a prática faz realmente diferença. :)

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