É um fato que as séries coreanas são um sucesso mundial. Eu já vi umas 3 ou 4, e as que vi foram bem leves, mas sempre com um fundo instrutivo. Talvez eu não tenha visto muitas, pois pelo que me contam amigas e conhecidas, tem uma porção e sempre me indicam alguma que consideraram maravilhosa e que eu tenho que assistir.
Curti muito as que vi, porque sempre tinham uma mensagem.
A que mais gostei foi uma que o ambiente da série é uma editora. Nossa, fiquei fascinada. Deram muita informação editorial, e achei sensacional. Aprendi muito.
O tema dessa série era como a mulher pode retornar ao trabalho depois de um tempo cuidando dos filhos. Mesmo com graduação e prêmios no curriculum, como foi difícil para ela. E me pareceu que lá isso é até pior do que aqui no Brasil.
A protagonista – Kang Dan-i – ficou 7 anos fora do mercado de trabalho e na série acaba tendo que aceitar um trabalho inferior para o qual estava preparada, que era trabalhar com marketing e publicidade. Na verdade, para conseguir o trabalho, teve que omitir que era formada. Até mesmo nesse teve dificuldade para conseguir, mas acabou conseguindo.
Ela se sai super bem, é super humilde, quer aprender e é muito grata pelo trabalho. Ela teve uma segunda chance e agarrou com toda força. Não vou contar o fim, mas é claro que ela passa por momentos difíceis até ter o seu final feliz.
Você está usando seu talento?
Essa série me fez pensar em quantas vezes já me deparei com pessoas muito talentosas, cheias de capacidade, e que não estavam usando seus talentos.
Algumas vezes, por falta de oportunidade, outras por não terem mais esperança, outras, porque a vida as levou para outro rumo, e não conseguem voltar ou não sabem como. Às vezes, não parece haver luz no fim do túnel.
Eu acredito que temos que ter fé. Se estamos no mundo, é porque Deus nos colocou com um propósito. Eu não acredito que estamos aqui ‘só a passeio’, como diz o ditado.
Eu também fiquei um tempo sem trabalhar quando tive meus filhos. Usei esse tempo para estudar, fiz vários cursos, todos em áreas que me interessavam. Uns foram gratuitos, uns a pagamento – e caros, mas fiz sacrifícios para pagar, pois afinal eram algo que estava relacionado ao meu sonho de trabalhar com ilustração infantil.
Por isso, resolvi escrever aqui sobre algo que é muito importante para conseguirmos atingir os nossos objetivos: metalidade, ou, como dizem alguns, mindset.
Quem me conhece sabe que sou otimista demais às vezes. Sou do tipo que acorda feliz e ama tomar café da manhã.
Meu filho diz que sou um ‘ursinho carinhoso’, que sempre acho que tudo vai dar certo, que as dificuldades são maneiras de aprendermos. Ele – e minha filha - caçoam de mim por eu sempre ter um exemplo de superação, uma história ou um ditado.
Eu tenho até um quadro preto, onde escrevo algum ditado ou um versículo.
Obviamente não sou sempre assim. Tem dias - e hoje é um deles - que a vida nos passa a perna. As decepções desanimam, e a gente acaba se perguntando se vale a pena correr mesmo atrás de nossos sonhos. Pensamos que temos o controle nas mãos e, quando a gente vê, acontece uma supresa que nos deixa abalados.
No entanto, temos que ser como aqueles bonecos 'joão-bobo'. A vida acerta na gente, vamos ao chão mas voltamos a ficar de pé e continuamos a jornada.
Por isso, eu acredito verdadeiramente que, se tivermos força de vontade, preparação, um plano e recursos, chegaremos lá. Termemos obstáculos? Certamente. Quem não os tem?
A maior indústria de entretenimento está aí para provar isso. Milhões de pessoas compram jogos online só pelo prazer de superar obstáculos.
Mas tem níveis que são mais difíceis. Ficamos dias e dias tentando passar. E quando conseguimos, a satisfação não é maior?
Quem conhece a minha história, vai entender que as chances de eu ter chegado onde cheguei eram minúsculas. Nascida numa família pobre, estudando em escola pública, nem material direito tinha. Um dia, pedi para minha mãe:
- Mãe, queria aprender piano.
E ela respondeu;
- Filha, aqui na região não tem nem quem ensine. – Eu achei interessante a desculpa dela, porque na verdade não teria como pagar as aulas.
Não foi possível aprender piano, nem balé, nem artes... Aprendi crochê e tricô, que era o que tinha.
Para desenhar, como não tinha papel, eu usava as folhas vazias dos livros que minha mãe tinha em casa. Às vezes, desenhava até nas paredes. Por sorte, meus pais nunca brigaram comigo por isso, embora meu pai fosse bem severo com a gente. Acho que ele nunca viu, por isso que não brigou. Rsrs...
Toda profissão tem seu lado bom e seu lado ruim
Quando somos crianças, são poucos os pais que estimulam a arte como uma profissão. Quantas vezes não ouvimos: arte não dá dinheiro. Larga mão de desenhar e procura um emprego de verdade? Muita gente quer trabalhar como ilustrador, mas muitos desistem antes mesmo de começar.
É difícil? Às vezes, é. Mas qual profissão é sempre fácil?
Ah, mas tem os funcionários públicos, que prestaram concurso, e ganham bem, dizem alguns. Pode até ser, mas será que estão fazendo o que gostam? Quantos deles tem tarefas que drenam as suas forças? Eu conheço alguns que tem trabalhos que eu não invejo. Pode acreditar.
Ser advogado é fácil? Será? Quantos deles tem que lidar com clientes suspeitos, separação de famílias, pessoas com problemas familiares, ameaças, e ir atender de madrugada um cliente que teve algum problema?
E os médicos? Ganham bem? Alguns ganham, mas nem sempre. E às vezes tem que lidar com a dor, a perda, a morte, a frustração por terem feito tudo que podiam, mas a pessoa não sobreviveu?
Toda profissão tem suas dificuldades.
E a nossa não é diferente.
Dizem que a maior dificuldade é conseguir clientes. Mas eu acho que a maior dificuldade é encarar ilustração como uma profissão, que essa profissão também precisa de dedicação de verdade, avaliar e ter um bom trabalho para entregar, saber lidar com os clientes, cumprir prazos, saber navegar no mundo editorial e no mercado, saber administrar o seu trabalho. Enfim, não ver ilustração como hobby, mas como trabalho, e que, sendo visto como trabalho, aí sim será bem remunerado.
Você consegue!
Quanto ao nosso sonho de ilustrar, creio que devemos pensar e agir como se já estivesse acontecendo.
Por que isso?
Porque ajuda muito a você ter uma mentalidade que acredita que é só uma questão de tempo, e não uma mentalidade de derrota.
Se ainda não aconteceu, não pense: se eu vier a ilustrar um livro
Pense: quando eu ilustrar um livro
Porque nossas ações vão acontecer conforme o que acreditamos. Acredite que vai conseguir, e aí começará a agir para isso acontecer. Nossa autoconfiança aumenta quando acreditamos, nos preparamos e agimos intencionalmente.
Tem um conhecido meu que desejava tocar violino. Quando era jovem, ele foi na aula e o professor, ouvindo ele, disse: você não tem talento.
E sabe o que ele faz hoje? Toca na Orquestra Sinfônica do Paraná.
Ele poderia ter acreditado no que o professor falou e ter desistido. Mas ele se recusou e estudou mais que os outros, para ficar melhor, e aí conseguiu o lugar que ele queria.
Lembre: o trabalho duro supera o talento quando o talento não trabalha duro.
O mundo mudou... e as oportunidades aumentaram
Há 20 anos, tinha muito menos oportunidades que hoje.
Logo que comecei, fui a uma editora conversar sobre a possibilidade de ilustrar para eles. Eles falaram que gostaram do meu trabalho, e queriam até que eu desse aula, mas não poderia ilustrar para eles porque eles tinham contrato com 15 profissionais (entre escritores e ilustradores) e não estavam pegando mais gente.
Pode imaginar? Somente 15 pessoas?
Hoje em dia, isso já não é mais assim. Muitas editoras não tem mais contrato somente com ilustradores específicos e muitos livros são feitos de modo freelancer. Se a editora gostar do seu trabalho, nada impede que eles contratem você para ilustrar.
Antigamente, somente editoras tradicionais poderiam concorrer ao prêmio Jabuti. Hoje em dia, até mesmo edições autorais podem. Muita coisa mudou.
Tudo isso graças à internet, que democratizou as possibilidades.
Antigamente, eu não poderia ilustrar para Portugal, como fiz já algumas vezes. Seria muito difícil.
Hoje temos muito mais possibilidades.
Mesmo que suas ilustrações não sejam hiper-realistas como as de algum ilustrador que você admira, isso não quer dizer que você não tenha chance.
Uma vez estava falando com um diretor de arte e ele me falou que gostava de ilustrações tremidas, que não tinham um traço definido. Isso me surpreendeu muito. Jamais eu teria imaginado que eram as preferidas dele.
Por causa disso, me senti mais livre, e o trabalho que fiz para ele foi com mais artístico, e me senti muito feliz com aquele trabalho, pois ele me deu a liberdade de não ter que fazer perfeito.
O que às vezes não gostamos em nosso trabalho, pode ser o que uma outra pessoa aprecia. E isso pode até contar a nosso favor.
Por isso, embora você admire um outro estilo, tente melhorar o seu, para que tenha um aspecto mais profissional, e assim captar a atenção de possíveis clientes.
Hoje tem espaço para todos. Nunca houve algo assim em nossa área.
Todos podemos melhorar nosso trabalho, não importa em que nível estamos. Basta praticarmos com frequência, com constância, aprendendo sempre mais e buscando ajuda quando não conseguimos algo. Nosso trabalho vai sempre evoluir. Por isso, a prática é tão importante.
Use os obstáculos como degraus em direção ao seu objetivo
Obviamente, você vai ver dificuldades no caminho, mas entenda que esses obstáculos são parte do processo, e que mesmo que dificultem, ou até impeçam oportunidades, serão aprendizados que farão de você uma pessoa mais preparada para colher os frutos do seu trabalho.
Eu passei por obstáculos também, mas não desisti. Deu vontade, confesso. Mas eu pensei: se eu não lutar pelo que quero, quem vai fazer?
Eu sempre tentei aprender mais, me aprimorei, fiz vários cursos no exterior. Fiz no exterior porque aqui não encontrei as respostas.
Foi caro? Foi um verdadeiro sacrifício. Mas não vale a pena sacrificar algumas coisas, como uma pizza por semana, ou o dinheiro da faxineira, ou até deixar de comprar um sapato novo, só para dar um passo em direção ao seu sonho?
Mas hoje em dia não é mais necessário procurar informação fora do Brasil, porque agora no meu curso eu respondo tudo que eu queria saber, e porque eu sei como é difícil encontrar essas respostas.
Alguns profissionais não querem divulgar, pois temem a concorrência.
Verdade. Há ilustradores que me ajudaram muito no começo, mas houve também quem não quisesse nem papo, com medo de que eu roubasse o espaço dele.
E também é verdade que, mesmo aqueles que são bem sucedidos ou que às vezes parecem bem sucedidos, passaram, passam e passarão por obstáculos ao longo da carreira. Sempre tem.
E isso acontece em todas as áreas.
Um conhecido meu tem uma loja de uma grande franquia. Ele não tem que correr atrás de clientes, porque todo mundo quer comprar lá. Mas ele comentou nesse final de semana que eles têm muitos problemas com a loja e às vezes dá até vontade de desistir, mesmo tendo lucro. E ele está no ramo de alimentos. Imagine: se eles têm problemas, por que outras profissões não teriam?
Quando algo não der certo, pense: isso não funcionou, mas quais foram as 3 coisas que eu aprendi com essa experiência?
Muita gente diz que a carreira artística não dá dinheiro. Mas se você estudar, se preparar, agarrar as oportunidades, e perseverar, é só uma questão de tempo.
E alguns vão deixar para fazer quando o momento certo chegar. Mas e se o momento certo não chegar nunca? A vida é caótica. Sempre tem coisas acontecendo.
Vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo planos.
Eu amo planejar. Mas só planejar não leva a nada. Por isso, coloque o primeiro passo logo em prática. E depois outro, e depois outro...
Li essa semana que as pessoas bem sucedidas do mundo têm algumas coisas em comum:
· eles acreditam que podem conseguir o que querem,
· eles agem para que aquilo aconteça (fazem planejamento, dão passos, suas ações estão de acordo com o objetivo)
· sabem que não será fácil, que haverá obstáculos, mas que eles podem superar, e que vão planejar como superar
· e até aprender com esses obstáculos.
Quando você tem confiança no seu trabalho, isso transparece no que você ilustra.
Então, avalie o seu trabalho, veja o que falta, planeje e pratique, para que o seu desenvolvimento seja constante e você esteja cada dia mais perto do seu objetivo.
Há na Bíblia a parábola. A parábola dos talentos. (Mateus 25:14-30) Embora eu já tenha ouvido diversas explicações, eu gosto muito da que diz que Deus nos deu pelo menos um talento e que devemos usá-lo. Se todos temos um talento, não podemos enterrar e não fazer nada com ele. Esse talento tem um propósito que deve ser cumprido. Ele tem que dar fruto.
Não importa o que você vai fazer, tem que colocar as suas habilidades para produzir, para ajudar as pessoas, para contribuir com o mundo onde vive. E o seu talento poderá impactar a vida de muita gente.
Voltando à série coreana, a Kang Dan-i voltou ao mercado de trabalho numa posição inferior. Porém, ela não se deixou abalar e toda oportunidade que teve, tentou colaborar com suas habilidades de marketing. Mesmo que não fosse a área onde estava trabalhando naquele momento, ela viu que poderia colaborar. Mostrou proatividade e usou o talento dela para ajudar a empresa e tentar melhorar sua posição dentro dela também. Ela tentou várias vezes, e algumas não deram certo. Mas mesmo assim, ela perseverou até que teve o resultado esperado.
Portanto, não enterre o seu talento. Use em todos os momentos, pois as oportunidades podem aparecer quando você menos esperar.
Ilustrada semana!
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