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Foto do escritor Ingrid Osternack

O Sonho de se Tornar Artista - I

Atualizado: 22 de jul. de 2019

Antes de eu me tornar ilustradora, trabalhei como professora primária e também no departamento comercial de uma grande empresa. Vindo de uma família simples, não tinha condições de somente estudar, e comecei a trabalhar enquanto ainda fazia o ensino médio. Sou formada não somente em Pintura, mas também fiz magistério no Ensino Médio, sou graduada em Administração na UFPR, fiz uma pós-graduação em Marketing, também um curso de aperfeiçoamento em Metodologia do Ensino Superior, além de cursos de aperfeiçoamento em ilustração infantil.




Todos esses cursos foram muito enriquecedores, mas desde muito pequena sabia que o meu sonho era ser artista e ilustradora. Ser artista, principalmente no Brasil, é uma profissão que requer muito jogo de cintura. Certamente existem países onde o artista tem mais oportunidades, mas em nosso país temos que ser flexíveis.

Na Itália, onde me formei em Belas Artes, não é diferente. Lá os ilustradores sempre tem uma outra fonte de renda. Quem trabalha somente com ilustração geralmente depende de outra pessoa (marido, família) para complementar a renda. Outros dão cursos, oficinas, ensinam em universidades, ou fazem algum trabalho relacionado a artes. Há aqueles que participam de feiras, vendem seus livros, visitam escolas, enfim, sempre atuando na área, mas dificilmente ilustram em tempo integral. Pelo que tenho observado com meus colegas, é a mesma coisa aqui.


O trabalho em si é algo muito importante para o ser humano. Tanto que, se você perguntar a alguém o que aquela pessoa é, ou faz, ela vai responder dizendo a profissão dela. Na grande maioria das vezes, a nossa profissão nos define.


Em algumas profissões, somente se obtiver um diploma e muita experiência, você pode dizer que é aquele ‘título’. Porém, com o artista nem sempre é assim. Ser artista tem uma conotação especial. Mesmo antes de se formar, quando – e se – isso acontece, você pode dizer que é um artista.


Ser artista é ser apaixonado por fazer arte. Um artista está sempre fazendo arte: nos cadernos de escola, no verso de papéis do seu trabalho, nos finais de semana, nas paredes, no guardanapo do restaurante… 🙂


Então, mesmo que uma pessoa trabalhe o dia todo em outra profissão, ela ainda vai achar um tempo para fazer sua arte. Pode ser à noite, nos finais de semana, mas a sua mente está sempre ligada em algo relativo a arte.


Às vezes, a correria do dia a dia nos faz deixar nossos sonhos para depois. Mas isso não precisa ser assim. Nunca é tarde para correr atrás do seu sonho.


Há alguns anos eu mesma estava trabalhando em outra profissão, e com filho pequeno. Eu entrava na empresa às 7:40 e saía 17:50. Era muito longe do centro da cidade e levava quase uma hora de ônibus. Porém, apesar de ser desanimador, decidi que iria estudar arte e passei no vestibular em duas faculdades, uma federal e outra estadual. Optei por uma das faculdades e comecei a estudar. Não foi fácil conciliar tudo isso. Minha mãe pegava três ônibus para ficar com meu filho bebê em minha casa.


Assim que terminei o primeiro ano de Desenho, meu marido foi convidado para passar dois anos na Itália. Deixei a faculdade de Desenho e comecei a me informar em como poderia estudar lá. Mesmo sabendo que ficaria somente dois anos, sabia que um ano de estudo lá seria uma grande oportunidade.


Na Itália também não foi fácil. Não conhecia ninguém, a creche era somente para crianças a partir de 3 anos e tinha fila de espera por vagas. Meu filho tinha dois anos e o valor de escola particular era absurdo. No primeiro ano fiquei somente pesquisando sobre faculdades. A cidade em que morava era muito pequena e só tinha uma linha de ônibus, que funcionava poucas vezes por dia.


Na época a internet era novidade por lá e não consegui nenhuma informação online. Com o auxílio de colegas de meu marido, descobri que a 90km dali havia a Accademia di Belle Arti de Veneza. Viajamos, meu filho de 2 anos e eu, de trem para obter informações em Veneza. A cidade era maravilhosa, mas tudo muito complicado. Pegamos o vaporetto, que é um barco-ônibus, e consegui chegar na Accademia. Lá me deram informações contraditórias. Como eu era estrangeira, teria que me inscrever para o vestibular (esami di ammissione) através do consulado brasileiro. Os documentos tinham que ser traduzidos (juramentados) e consularizados. Pensei: como é que eu, estando aqui, vou enviar tudo para o Brasil a tempo?


O consulado italiano é sempre muito cheio e, com a ajuda de uma grande amiga, consegui entregar toda a documentação no consulado um dia depois de as inscrições estarem terminadas. Eu lá na Itália e ela aqui para me ajudar. Por graça divina, o consulado aceitou minha documentação um dia atrasada (porque o malote ainda não tinha sido enviado) e consegui me inscrever para fazer o vestibular. Um detalhe importante se você pretende fazer uma faculdade na Itália: eles só aceitaram minha documentação porque eu já era formada em um curso superior. Caso contrário, eu teria que fazer uma complementação de estudos antes de ingressar na faculdade.


Os exames de admissão consistiam em provas orais de História da Arte Italiana, um desenho livre e desenho de observação. Neste último tínhamos que desenhar a modelo (nua) que tinha vindo posar.


Como eu era estrangeira, fui dispensada do exame de História da Arte Italiana, mas fui entrevistada por uma banca que me fez outras perguntas.


Dias depois, quando vi que tinha sido aprovada, foi uma dos momentos mais felizes de minha vida. Porém, a jornada estava só começando…


Para não ficar muito longo, vou contar minha experiência em outra oportunidade. 🙂


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