Publicação de Livros – Parte I
top of page

Publicação de Livros – Parte I

Com o sonho de publicar seu livro infantil, algumas pessoas têm entrado em contato comigo para ilustrar suas histórias. Confesso que me sinto lisonjeada quando isso acontece. Fico feliz mesmo! É muito recompensador colaborar para a realização de um sonho.

Porém, percebi que muitas ainda desconhecem as possibilidades que existem para a publicação do seu manuscrito. Por isso resolvi falar um pouquinho sobre o que sei a respeito da publicação de livros atualmente.

De alguns anos para cá, houve uma enoooorme mudança no mercado dos livros. Eu confesso que estou ainda tentando compreender todas essas mudanças, porém cada vez mais me convenço que é praticamente impossível acompanhar tudo que acontece. Todo dia tem alguma novidade, seja na tecnologia, na moda, na culinária, e é claro que essas mudanças refletem no mercado ‘literário’. Há alguns anos a venda de livros para o governo era o principal objetivo principal de algumas editoras, pois o governo comprava livros para milhares de escolas públicas no Brasil todo. Porém, as editoras focaram demais nesse segmento, ao invés de tentar formar leitores. E quando o antigo governo diminuiu o investimento nesse setor, muitas editoras começaram a ter dificuldades financeiras e outras até fecharam. Um cenário muito triste. Porém, algo que aprendemos é que não devemos focar num só cliente, por melhor que ele possa parecer. É o antigo ditado: não colocar todos os ovos numa cesta só.

Além disso, a mudança de leis, o advento de novas tecnologias, venda de livros online, download de livros e até o empréstimo online de livros, entre outras razões, nos fazem crer que o mercado do livro tem passado por um momento incerto, ‘um momento de transição’, poderíamos assim dizer. E já faz algum tempo que isso acontece. Por outro lado, algumas tecnologias possibilitaram a compra de livros por um preço muito mais acessível. Ler um livro estrangeiro até então era quase impossível, a não ser que pagássemos valores altíssimos, tanto pelo livro quanto pelo transporte, e esperássemos semanas para recebê-lo. Já faz uns vinte anos que encomendo livros do exterior e vejo que a tecnologia facilitou bastante a aquisição dos mesmos. Hoje com um clique é possível começar a ler um livro digital em questão de minutos. Obras que já estavam esgotadas estão à disposição de quem tem uma conexão de internet. Como tudo, isso traz vantagens e desvantagens. E uma desvantagem é que essa mesma tecnologia ainda não atingiu a qualidade do livro chamado ‘físico’. E esclareço que estou falando de e-books, não de apps. Sou consumidora de ebooks há anos e percebo que ainda não dispomos de livros com a qualidade que o livro físico tem. Se for um livro só de texto, o ebook funciona perfeitamente. Mas basta colocar imagens que o produto geralmente decepciona. Por isso, continuo adquirindo livros físicos que, além de serem lindos, são mais gostosos de pegar, cheirar e sentir na ponta dos dedos.

Atualmente, qualquer um pode publicar. A auto-publicação do livro físico virou um mercado que se estabeleceu de modo definitivo. Não são poucas as pessoas que tem até optado por não querer mais publicar através de uma editora tradicional. Vou citar alguns exemplos mais tarde, mas primeiro gostaria de falar um pouco sobre os diferentes tipos de editora que eu conheço. Não tenho a intenção de esgotar esse tema, até porque não é o meu objetivo nem sou profunda conhecedora desse mercado, mas devido ao fato de eu receber várias mensagens me perguntando sobre isso, resolvi escrever sobre o que eu sei. De qualquer forma, espero que seja útil para o leitor que começou a se interessar pela publicação de livros, em especial os infantis. Caso eu tenha esquecido de algo ou você deseje manifestar a sua opinião, ou até contar uma experiência, deixe um comentário.

Retomando o assunto, existem atualmente algumas modalidades de publicação, entre elas a publicação através da editora comercial e a da editora sob demanda. Além delas, existem ainda outros meios de se publicar atualmente, mas vou focar nesses dois modelo e, sobretudo, do mercado em que trabalho: livros infantis.

A editora do tipo comercial é aquela que recebe o seu texto para análise, o qual eles chamam de ‘originais’. Às vezes o editor mesmo o lê, e às vezes a editora envia para um grupo de pessoas que dão um veredicto, que consiste em votar a favor ou não da publicação. Caso a editora decida publicar, entram em contato com você (meses depois, pois esse processo costuma demorar), fazem um contrato de cessão de direitos patrimoniais (geralmente o contrato reza que você possui os direitos morais de autor e eles os direitos patrimoniais: ou seja, você é reconhecido como autor e eles são os ‘donos’ do seu texto, pagando-lhe royalties, cuja cessão pode ser total, parcial, por tempo determinado, por tempo indeterminado…). A editora costuma pagar ao autor 10% sobre o preço de capa do livro. Geralmente essa é a regra. Mas como a lei de direitos autorais possui algumas brechas, já vi tratativas com autores um pouco diferentes, como por exemplo: 10% sobre o preço de capa, com pagamento à medida que os livros forem vendidos OU 7% sobre o preço de capa, mas pagamento adiantado de toda a tiragem. Dependendo da expectativa de venda, o autor decide se é melhor ter 7% de tudo agora ou aguarda para ver se (e quantos exemplares) o livro vende, mas recebe 10% sobre o preço que o livro é vendido. Mas cada editora apresenta uma opção diferente, então essa não é a regra para todas. Também já soube de editoras que estão dividindo as despesas com o autor. E o autor, na expectativa de ter logo seu livro publicado, acaba aceitando e esperando receber o retorno desse investimento depois que o livro for publicado e vendido. As editoras possuem várias modalidades de contrato, tanto para o autor quanto para o ilustrador. Há modalidades de cessão total, parcial, por tempo limitado, por tempo ilimitado, cessão de direitos de uso de imagem (para ilustrações), etc… Tudo depende do que você já conhece a respeito, do interesse deles no seu livro, da tiragem, da sua fama, etc.

Depois das negociações e de assinado o contrato por ambas as partes, a editora costuma procurar um ilustrador – se for um livro ilustrado -, envia o texto para o mesmo, e este apresenta o seu orçamento, conforme dimensões, número de páginas e técnica. Daí advém o contrato, a apresentação e aprovação dos rafes, o desenvolvimento do livro em conjunto com as ilustrações… Há diferenças de procedimentos de editora para editora, e de ilustrador para ilustrador.

Esse tipo de editora, chamada comercial, a meu ver, é ainda a melhor opção para publicar, pois eles se preocupam com o contrato, com a contratação do ilustrador, diagramador, revisor, com o ISBN, a ficha catalográfica, com o lançamento, a publicidade e com a distribuição que, na minha opinião, é a parte mais difícil de todo o processo de publicação do livro. Geralmente o autor não tem a facilidade de enviar o seu livro para outras cidades, quanto mais para milhares de livrarias em todo o território nacional. Distribuição e venda: essas são a grande vantagem das editoras comerciais.

Entre as desvantagens, a demora de todo esse processo pode desanimar o mais otimista dos autores. Há livros que demoram anos para serem publicados. Do envio dos originais, mesmo que a editora tenha pressa em publicar, o livro pode vir a ser publicado um ano depois. Há no momento editoras recebendo e aprovando originais que poderão vir a ser publicados daqui a um, dois ou até mais anos. Também pode acontecer de a editora assinar o contrato com o autor e não publicar nunca. Infelizmente já vi acontecer com autores conhecidos.

Uma outra grande desvantagem é que essas editoras geralmente não estão mais recebendo originais para análise, pois trabalham com autores já premiados, consagrados, ou até escritores que já conhecem de longa data. Algumas editoras tem contratos com um certo número de autores já conhecidos do grande público que, por esse mesmo contrato, devem lançar um número mínimo de livros todo ano. Essa pressão, às vezes, leva o autor a publicar qualquer coisa e vemos autores consagrados escrevendo textos que não possuem a mesma qualidade de antigamente. Outras editoras preferem apostar em grandes nomes, pois continuam vendendo, e esses autores tem que escrever, não importa se estão inspirados ou não. Isso até vale um comentário: um escritor não pode aguardar chegar a inspiração. Tem que produzir. E às vezes as editoras publicam livros de personalidades que nem escrevem, mas que tem garantia de venda. Nesse caso, ghostwriters podem ser contratados, para auxiliar quem não tem o dom da escrita mas tem popularidade.

Alguns autores procuram pequenas editoras, mas mesmo estas já têm bastante originais para avaliar. Autores que apresentam algo ‘pejorativo’ no texto, palavras consideradas inadequadas, ou até algo que poderia ser modificado, acabam por ser descartados, uma vez que a pessoa que lê os originais tem que cumprir a sua meta e certamente não conseguirá ler tudo que chega. Para você ter uma ideia, há editoras que não publicam livros com certas palavras, e também para não ter que lidar com polêmicas. Os seu originais podem ser descartados mesmo sendo uma obra prima. Às vezes acontece da editora nem ler originais que, por exemplo, sejam em rimas (embora crianças amem esse tipo de livro). Depende do que eles tem interesse me publicar no momento. Ou melhor: depende do que eles acham que os leitores (clientes) vão querer no momento.

Agora imagine você chegar na sua mesa e ter que ler… vamos supor… uns 30 livros por dia. Se pararmos para pensar que, na melhor das hipóteses, um editor recebe pelo menos uns 10 originais para ler todos os dias, no fim do mês ele terá uns 200 para ler. É humanamente possível para alguém ler tanto durante um mês? E ainda avaliar? Isso além das outras atribuições que ele certamente tem. E se o texto estiver ‘truncado’, mal escrito, com erros ortográficos e gramaticais? Por isso sugiro que, se você for enviar o seu texto para ser avaliado por uma editora, apresente-o nas melhores condições, com fonte adequada, faça muitas revisões, escreva-o de um modo que o editor passe das primeiras páginas (o chamado ‘page turner book’), de modo que ele fique curioso para saber o final. Não envie o seu original pensando: depois eu faço uma revisão.

O livro premiado Felpo Filva, de Eva Furnari, teve mais de 80 versões antes de ser publicado. Algumas editores estabelecem em seu site como o texto deve ser enviado. Algumas só recebem por carta, outras só online. Verifique também se o tipo de livro que você escreveu se encaixa no perfil da editora. Provavelmente uma editora que publica livros de direito não irá se interessar por livros infantis.

Uma editora é uma empresa. Uma empresa sempre tem uma missão, uma visão. Mas temos que ter em mente que o objetivo de uma editora não é só levar cultura, literatura e informação às pessoas. Como empresa, uma editora também tem como objetivo gerar lucro, e é natural que seja assim, afinal todos que lá trabalham tem direito a receber o seu salário. Mesmo os autores que buscam realização pessoal, buscam contribuir com a cultura da humanidade, buscam ensinar algo para as crianças, compartilhar seus pensamentos, etc, também precisam receber pelo seu trabalho criativo. Todo mundo precisa de seus rendimentos para viver: o padeiro, o bancário, o cantor, o ilustrador, a gráfica… Portanto, para ser incluído dentro do catálogo, não basta o texto ser bom ou ter qualidade, também tem que ser ‘comercial’.

Concluindo, a publicação de um livro depende também de variáveis que estão fora do alcance do autor iniciante. Ainda que você não seja um autor conhecido, mas se você acredita no seu livro, não desista. Já ouvir relatos de autores muito famosos que tiveram seus livros rejeitados por dezenas de editoras até que uma resolveu apostar neles. Continue tentando: uma hora você vai conseguir publicá-lo!

No próximo post vou falar um pouco sobre o que sei a respeito das editoras sob demanda.

34 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page